domingo, 12 de julho de 2015

Pequeno Excerto #13

"se te disser que choro de cada vez que choras, mesmo quando me calo e pareço ver-te ao longe,
és tão grande em mim que às vezes tenho de me distanciar para que possas caber, sabes?, dou dois passos atrás, olho-te mais distante, depois arranjo maneira de te trazer toda, e só então regresso,
o corpo pode ser elástico mas nunca como o tamanho interior que me deste desde que te conheci,
era pequeno, minúsculo, quase nada antes de ti,
ou mesmo nada, se as palavras existem têm de ser ditas, não é?,
se te disser que choro de cada vez que choras, dizia, deixas-me chorar contigo assim?, ficar calado à espera que passe, pedir às horas que te deixem parar,
posso abraçar-te quando me apetece fugir?,
agora quero sentar-me contigo à mesa,
gosto-te mais do que arroz, e esta?,
eu que como arroz com tudo,
gosto-te mais do que arroz, que tal isto como declaração de amor?,
se te disser que choro de cada vez que choro deixas de chorar, deixas?,
e deitas-te no exterior das lágrimas para chorarmos juntos,
e já agora nos amarmos,
pode ser?"
___________
in Queres Casar Comigo Todos os Dias, Bárbara?, de Pedro Chagas Freitas

terça-feira, 30 de junho de 2015

Pequeno Excerto #12

"amanhã temos de acordar cedo, não te esqueças,
não imagino o que vai acontecer,
sei que tu vais e faz sentido o resto,
o amor não é complicado, até simplifica, não é?,
o nevoeiro é a indolência, jamais a embriaguez,
o que diminui o tempo de vida é a aurora da dor, a solidão sem destino, as fendas por onde o sonho apodrece,
o que mais me encantou sempre em ti foi o natal absurdo da tua presença, uma espécie de domingo absoluto,
não me perguntes o que é isso que eu não sei, mas é mesmo assim, posso garantir, 
desde que apareceste nunca mais me faltaram sonhos, já te tinha agradecido por isso, já?"

___________
in Queres Casar Comigo Todos os Dias, Bárbara?, de Pedro Chagas Freitas

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Quis

Penso, pareço que me escondo.
Ninguém me ouve, nem eu me quis ouvir.
Fingi viver na obscuridade,
Mas era obviamente claro;
O relógio já lá vai,
Que ninguém mais o apanha.
Passe as horas que passar
A maré sempre sobe,
O sol sempre nasce
E eu espero por aquilo que me renasce.
Vivo por entrelinhas, 
Na complexidade das palavras,
Há lá diferença mais obscena
Que o fazer e o agir.
Faço sem pensar,
Ajo porque assim o quis.
Já quis ser poetisa,
Mas poetisa não pude ser;
Pois poeta é quem sente palavras,
E eu nasci para as fazer ver.

terça-feira, 23 de junho de 2015

Pequeno Excerto #11


"O teu corpo apareceu em mim para aprofundar o conceito de morte, vi-o para acreditar na vida eterna, e imediatamente fiquei pronto a morrer por ele – 

e pelo prazer que ele me dá, a minha mão andava perdida e depois encontrou-se, soube com serenidade quais os caminhos certos, 
e quando a noite acabou ambos soubemos que estava a começar qualquer coisa que não sabíamos o que era mas que sabíamos que fazia voar e chorar."
___________
in Queres Casar Comigo Todos os Dias, Bárbara?, de Pedro Chagas Freitas

domingo, 21 de junho de 2015

Pequeno Excerto #10

"Somos jovens quando temos muito para amar, anda-se pelos dias à procura de um motivo e quando o encontramos percebe-se que não há motivos, apenas urgência, o tempo a derreter-se entre os dedos e o futuro curto para o espaço que os sonhos ocupam – percebo a nossa humanidade, foi também ela que nos juntou, mas bom bom era juntar-lhe algo de diferente,

a imortalidade, por exemplo, 

pode ser?"

___________

in Queres Casar Comigo Todos os Dias, Bárbara?, de Pedro Chagas Freitas

sábado, 20 de junho de 2015

Pequeno Excerto #9

"Havia pessoas instaladas entre nós, passados que serviam para doer e não para lembrar, eu que pensava amar alguém estive apenas, afinal, à espera da melhor altura para te amar – que perversa é esta porra quando temos de falhar para acertar em cheio?
Dormes ao meu lado agora, a terra pára e movimenta-se quando é assim, não me interessa de onde viemos nem para onde vamos, apenas o lado prático de te amar."
___________
in Queres Casar Comigo Todos os Dias, Bárbara?, de Pedro Chagas Freitas

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Pequeno Excerto #8

"interessa-me a transfiguração da tua cintura na minha, o elemento sem nome dos teus olhos fechados,
quando fechas os olhos vejo-te todos os músculos, fecho os meus também e a memória de como o mundo começou assoma,
tudo começou numa bola de fogo,
ou então num orgasmo,
ainda não sei qual terá mais força, alguém sabe?"

_______________________

in "Queres Casar Comigo Todos os Dias, Bárbara?", de Pedro Chagas Freitas

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Pequeno Excerto #7


"- A tua sorte é que eu esqueço as coisas más que tu fazes.
- Coisas más? Que coisas más é que eu fiz?

- Não me lembro."
___________

in Queres Casar Comigo Todos os Dias, Bárbara?, de Pedro Chagas Freitas

terça-feira, 16 de junho de 2015

Pequeno Excerto #6


"Os amores perfeitos duram pouco. Os amores perfeitos são passageiros. Os eternos exigem dedicação. Exigem construção. Há que carregar muitas pedras às costas para construir um amor eterno.


Noventa por cento dos amores morrem por falta de dedicação. E os outros dez nunca sequer foram amores."

-------------------------

in "Queres Casar Comigo Todos os Dias, Bárbara?", de Pedro Chagas Freitas

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Pequeno Excerto #5


"no teu abraço calcula-se o limite do perigo,
definiste em mim o imediato, se é mais lento do que agora já demora demais, ouviste?,
acordei com uma tristeza distante hoje, falta-me sempre qualquer coisa enquanto não vens,
preciso dos teus olhos abertos para a coragem de abrir os meus."

________________________

in "Queres Casar Comigo Todos os Dias, Bárbara?", de Pedro Chagas Freitas

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Cinzento

Entristece-me a madrugada nebulosa,
As cores cinzentas de esperança chuvosa.
Nem um raio de sol, uma abertura de céu azul;
A bússola só aponta para sul.

Flores primaveris nem vê-las;
A humidade escorre pelas entranhas.
Os faróis dos carros iluminam estradas,
Que na brancura se encontram escondidas.

E depois a chuva cai que nem lágrimas;
E o tempo chora as últimas;
Acaba por desmoronar a palidez
E mais ninguém vem com porquês.

E o céu voltou na noite estrelada,
E a lua mostrou-se encantada.
Estrelas abrilhantaram o manto escuro
Parecendo que o dia não foi duro.

Voltam os cagarros, e a sua música noturna,
E os morcegos antes que "noturna" passe a "diurna".
E de repente a lua beija o mar,
E era hora de acordar.

Sem ti eu sentia-me como céu cinzento,
Por dentro transformava-me em tormento.
E depois acordaste-me da escuridão,
Envolveste as tuas mãos no meu coração.

Queria que soubesses que te amo,
Que é a ti que aos Deuses reclamo,
E que quando não estás aqui,
O tempo é escuro em mim.




sábado, 25 de abril de 2015

Foram cravos... Foram gritos

Tanto tempo que viviam pela calada
Naquela longa estrada;
Monótona, muda, a preto e branco;
A ditadura era um atravanco.

Vozes caladas na solidão
De quem um dia quis falar,
Recorda-se hoje, com gratidão,
O que há 41 anos Portugal viu passar.

Foram cravos;
Foram gritos;
Foram bravos,
Inclítos.

"O povo é quem mais ordena"
Porque a força é do tamanho
Que os homens queiram,
E a voz do povo é mais poderosa 
Que o período da ditadura.

Façam-se ao mundo,
"Grândola Vila Morena",
Que o povo consegue tudo,
Se não tiver alma pequena.






quinta-feira, 2 de abril de 2015

Corpo ou alma

Haverá vida num corpo?
Ou a alma é a vida que existe na gente.

Ou será que tudo mente?
Ou será que nada vive?
Nada é mais fulgente
Que a vida num corpo prudente.

Vem alma corroída,
E vem sem vida;
Que por madrugada foi esquecida,
Estatelada em plena estrada, agredida.

Socorram as almas do chão,
Que o vento as vai levar;
Terminem com a agressão
De quem não as quer amar.

Se Deus nos fez gente
Foi para amarmos com calma.
Mas, sinceramente,
O corpo é a vida que mente?
Ou somos vida em alma?

terça-feira, 24 de março de 2015

Se houvesse um "para sempre" ...

   Se houvesse um "para sempre" em todas as coisas que fizéssemos talvez tudo duraria mais um pouco.

   -Traz-me o café que eu amo-te para sempre.- não seria a coisa mais romântica que se poderia dizer, mas seria o acordo mais fiel de todos os tempos; a certeza de um sempre que até então mantinha-se e um café que chegava sempre a horas. Podíamos muito bem ser eternos no romance das palavras; bastava só o "para sempre", a sensação de pertencer a algo eternamente, algo que porventura nos faria bem; a segurança de um abraço a horas e de um café também.
   As pessoas precisam de muitos mais cafés e de "para sempre" também.

 

   -Hoje trouxe-te flores, para sempre!- e ela cairia no confronto dos atos; na certeza que ele tentava ser romântico incurável; não era mais do que um beijo de palavras, ele dizia-lhe "para sempre" e ela queria que fosse. E a merda das flores? Ela nem se lembrava que ele as tinha trazido! Era só o "para sempre", a certeza de que todo aquele momento iria durar. E nada mais importava, porque nunca nada importa se tudo é para sempre; o tempo que diga, que esse é infinito.
   As pessoas precisam de mais tempo, porque esse é "para sempre".

   Se houvesse um "para sempre" em todas as coisas que fizéssemos haveria muito mais tempo.

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Pequeno Excerto #4

"Ainda não descobri quantas lágrimas cabem no rosto, aposto em três mil, mais uma ou duas, no máximo, há muitos motivos para chorar e nem todos são bons, felizmente, o que seria de mim sem saber o instante do choro, a forma como dilata a existência, a sensação de que estou a encontrar o começo de mim, o milímetro onde a emoção começa?, espero pelo menos mais um milhão de lágrimas até ao final da vida, e é uma expectativa optimista, claro,viver é insuportável e é tão bom, porra."
_______________________________________
in In Prometo falhar, a mais recente obra de Pedro Chagas Freitas.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Pequeno Excerto #3

"Havia em nós, desde o começo, a certeza de que nada nos faltava, de que tudo estava pronto para nos receber até à felicidade total. Mas nenhuma felicidade é previsível - e se há algo verdadeiramente alegre na felicidade é essa constante imprevisibilidade, essa sensação de porta a abrir sem saber o que está por detrás.
A vida vale quase só pelas portas por abrir que não sabemos o que escondem."
---------------------------------------------------------------------
in "Prometo Falhar", a mais recente obra de Pedro Chagas Freitas.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O céu existe para sonhos

O céu só existe para quem acredita na possibilidade de voar.
   Que outro sentido faria o céu se não tivesse quem acreditasse que seria possível voar? E que sejam pássaros e que sejam borboletas todos aqueles que acreditam que o céu é a causa de voar. Que tenhamos asas e que o céu seja a nossa casa. 
    É como o sonho. Que sentido faz a vida de quem não sonha?
   Do mais profundo de nós vem o mais árduo sonho e só quem acredita na possibilidade de concretizá-lo é que tem espaço para viver. A vida pode muito bem resumir-se a sonhos. Do sonho vem objetivos e de objetivos vem a vontade de concretizá-los e logo, vem a vontade de viver. O mundo precisa de sonhadores, tal como o céu precisa de seres que saibam voar. Que nós, humanos, sejamos os sonhadores de quem o mundo precisa e que vós, todos os seres com asas, sejam os voadores do céu. Que o nosso único objetivo seja acreditar que da mais ínfima possibilidade ainda há esperança para o sonho, ainda há possibilidade de voar.

E do mais escuro beco, surge a mais linda borboleta.
    Como quando o nosso interior é tão escuro que precisamos de algo para nos sentirmos salvos. E assim surge o sonho mais absurdo que poderíamos desejar mas que no entanto nos mantém vivos. Ou então, quando estamos perdidos e aparece alguém, a luz da nossa escuridão que nos oferece o abraço das palavras e que nos faz acreditar na possibilidade de um novo sonho.

Que outro sentido faz a vida se não o de sonhar?

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

O tempo

Somos um relógio finito, mas qualquer hora é boa para nos perdermos no tempo.
      Que a vida já vai com muitos anos e a morte é certa; por isso ou das duas uma, ganhas o resto do tempo a amar-me ou perdes o resto do tempo a perderes tempo. Eis o que eu poderia escrever se fosse poetisa. Poderia escrever que a única coisa que me prende a ti é o coração. Sim, sofri o transplante da vida no dia em que te vi pela primeira vez. Cortaste-me a respiração e o meu coração, que já tinha sido muitas vezes maltratado, desfaleceu. Mas depois reanimaste-o e transplantaste metade do teu, e para não ser amor a meias eu dei-te metade do meu. Agora sim, o que nos unia eram os corações. Curaram-se um ao outro, ou melhor, curaste-me da vida, que até então não tinha sido mais do que pura ilusão, e eu curei-te da solidão de ter um coração bom de quem ninguém dava valor.

Só não temos todo o tempo do mundo, porque temos todo o tempo da vida.
     Que a vida só começa no momento em que há razões para começar, e só há razões para começar quando encontras alguém que te dá todas essas razões. Essas razões não são mais do que todas as dicas para sobreviveres ao tempo da vida. Um dia o mundo acaba, e com ele acaba o tempo do mundo. No entanto, a vida continua, e assim o tempo da vida também, não interessa em que lugar, mas certamente continua. Não podemos viver uma aventura no mundo para depois a vida desaparecer com a morte. A vida continua. A vida é no paraíso. E o paraíso é ao lado de quem vamos amar até para além da morte.

Não precisamos de ser jovens na terra para sermos jovens em toda a vida.
       Que a vida vai muito mais para além daquilo que vivemos na terra. Somos eternos e é essa a única certeza. Todas as pessoas precisam de um momento de eternidade. Como quando vemos o mar pela primeira vez e parece eterno. Como quando olhamos para as estrelas e parece eterno. Como quando o vento nos toca na face e parece eterno. Como quando encontramos o nosso outro "eu" e é eterno. As pessoas precisam de outro "eu" para serem eternas e a eternidade é a única forma de felicidade que podemos encontrar.

Só é eterno aquilo que nos faz bem.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Pequeno Excerto #2



"Amaram-se para sempre no tamanho daquela noite. Foram ao osso do prazer, e nenhum suor foi mal empregue. Não sabem se foram horas se foram só minutos; sabem que a partir dali nunca mais entenderam a vida da mesma forma. Adormeceram, cansados e apertados (os corpos encaixados como se tivessem nascido para aquilo: um para receber o outro debaixo dos lençóis; será o tamanho de um corpo definido em função do tamanho de outro?), e quando acordaram perceberam que estavam a acordar pela primeira vez.
Todo o amor nos acorda pela primeira vez."
______________________________________
in "Prometo Falhar", a mais recente obra de Pedro Chagas Freitas.

domingo, 28 de dezembro de 2014

Três e meia da manhã

três e meia da manhã,
e eu sou um tic-tac de horas.
que a noite leva-me por becos escurecidos,
e que me trazem pensamentos atrozes.
acorda-me num vendaval de emoções
e faz chover o amor,
acalma a tempestade
que não é mais que uma sensação de pudor.
o despertador não toca,
e tu não vens.
são três e meia da manhã
e eu quase perco os meus bens.
corre! vem acudir-me!
protege-me num abraço

que já sou quase cansaço,
não é que te importe,
mas a chuva já vem forte,
o mar está mais agitado,
e o vento virou para norte.
eram três e meia da manhã
e tu não vieste

que o dia te corra bem amanhã,
porque já me perdeste.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Música

O maestro ergueu-se,
como se comandasse tudo.
e o músico tocou,
o mais alto dó agudo.
a plateia aplaudiu,
como se fosse Mozart,
mas o maestro exprimiu
que se tratava de música do coração,
de cada palpitação.
assim se descobriu
que já fomos quase música.
partitura infinita,
a cada palpitar de coração,
e que quase ressuscita.
levada pelo vento
invejou toda a gente,
e os fez erguer em movimento,
quase que diretamente.
idolatrar a música, é idolatrar o amor,
quanto mais profundo,
mais confortador,
quanto mais sentido,
mais facilmente atinge o interior
e assim sendo a alma que estava perdida,
torna-se certa 
e agora em nada duvida.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Que um dia...

Que um dia a noite caia,
E se faça luz no nosso interior.
Que um dia cada estrela nos distraia,
E que morreremos por amor.

Que um dia o teu corpo me consuma.
Que um dia eu possa cheirar o cheiro intenso da tua pele.
Que um dia, à distância, a gente não se acostume.
E que um dia a terra se revele.

Que um dia eu te beije a alma.
Que um dia eu te toque no coração.
Que um dia me tragas a calma,
Que a vida nunca me trouxe até então.

Faz de mim a mais bela flor do teu jardim.
Faz de mim o teu luar.
Enrola-me nos teus lençóis de cetim,
E que a música do amor se faça ressoar.

Que seja para perto o dia 
Em que já não necessito de esperar.
E que hoje seja o dia,
Que para sempre irás me amar.



domingo, 5 de outubro de 2014

Se me esqueceres ...

preciso de te contar uma coisa,
esperei muito por dizê-lo.
não me interrompas, tenho de fazê-lo!
mas dá-me mais um segundo para respirar.
já consigo!
da mesma maneira que todos os caminhos vão dar a Roma,
todos os meus caminhos vão dar a ti.
sei que por dentro o sol mal te nasce,
sei que os teus olhos são dilúvio e que lágrimas estão prestes a cair.
sei que mal consegues respirar,
que, sobre ti, o mundo está quase a desabar.
sei que pretendes partir,
que queres recomeçar,
fiz-te tão bem e tu não me pediste para ir contigo,
sou inútil, e isto para mim é como castigo.
sempre pretendi fazer-te sorrir,
sempre ajudei-te nos maus momentos,
e agora não me pedes para ir.
que tipo de pessoa és?
possivelmente, não és a melhor,
e nem eu nem ninguém exigiu que tu o fosses,
podias pelo menos agradecer-me,
dizer-me "adeus"
podias pelo menos querer ver-me,
dizer-me que todos os teus sorrisos eram meus.
fizeste-me mal e eu fiz-te tão bem,
mas no fundo, se me esqueceres...
eu jamais te esquecerei.

sábado, 4 de outubro de 2014

Partiu e levou a minha alma

de quem parte fica a saudade
e o desejo de querer poder dizer mais uma vez "gosto de ti, acredita!".
de quem parte fica a vontade,
de querer poder dizer "eras toda a bondade dentro de mim".
quanto mede a dor de quem tem de partir?
certamente, mede muito menos que a dor de quem fica,
acabei por descobrir.
num momento a vida é bela,
estamos perto e não imaginamos que poderá ser o último dia.
temos uma razão de viver e perto de nós alguém especial,
alguém que na vida nos guia.
de repente já não temos nada!
tornamo-nos água derramada,
fome insaciada,
e cresce dor que se torna acumulada.
mentalizamo-nos que já não volta,
que subiu ao Reino dos Céus e por lá deve ficar.
é um lugar seguro, mas sentimos revolta.
perto ou longe sempre iremos amar,
desejávamos que fosse vivalma.
infelizmente, foram bastantes os que já tiveram que pronunciar:
"partiu e levou a minha alma".

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Para o meu grande amor

o acaso, ai o acaso, o acaso, o acaso,
que mais te posso dizer para além de que não foi por acaso?
és um idiota! sim, um idiota!
por quem mais me poderia apaixonar?
exato, só por ti, pelo teu jeito de ser,
pela tua maneira de me fazer viver.
és um idiota! sim, um idiota!
porque fazes-me ser ainda mais idiota,

como quando o vento decide usar o teu perfume,
e eu, automaticamente, paro para que o cheiro me consume.
poderia enumerar as inúmeras coisas que deverias saber sobre mim e não sabes,
como o facto de como gosto do café,
mas tu sabes,
como o facto de eu gostar de Ed Sheeran,
mas tu sabes,
como o facto de eu amar poesia,
mas tu sabes que é algo que me alivia.
deverias saber que amo o mar,
mas tu sabes.
deverias saber que amo o teu olhar,
mas tu sabes!
é por isso que eu te amo,
quem mais para me conhecer melhor que tu?
é essencial dar valor ao que se tem,
e é por isso que eu amo-te como ninguém !

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Quantas pessoas caminham sós?

caminhou sem dizer nada a ninguém
e foi ser feliz sem ser impedido por alguém.
tropeçou na infância e ergueu-se,
nem tão pouco lhe podia magoar,
naquela feliz infância onde aprendeu a sonhar.
queria acreditar que foi o papel que o fez crescer,
que lugar mágico seria o pensamento,
que lhe crescia por dentro,
que se tornava surreal,
que lhe fazia florescer o coração,
que lhe dava um brilho nos olhos,
e nada tinha sido em vão.
mais à frente tropeçou na adolescência,
e reviveu os erros do passado,
quando se fechou para o mundo e tornou-se ausência.
reviveu o seu primeiro amor que no presente tornou-se o seu grande amor.
não é possível fazê-lo sofrer,
não podia caminhar sozinha sem ele.
voltou.
disse-lhe que a vida era insignificante sem ele,
que ela vivia com ele, por ele e nele.
como a Terra necessita de atmosfera para salvar o mundo,
ela precisava dele para salvar-se do fundo.
todos necessitam de ter alguém por perto,
antes de crescer na vida, durante e após.
todos necessitam de um apoio, decerto,
mas quantas pessoas caminham sós?


segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Hoje despeço-me de mim

hoje despeço-me de mim.
notei que não sou mais eu quando não estás aqui,
notei que a tristeza acompanha-me e não quero viver assim.
notei que a minha alma tornou-se vazia,
que o meu chão desapareceu.
notei que a saudade quase que asfixia,
e o céu quase morreu.
hoje despeço-me de mim.
quero ser levada pelo vento,
e viver no sopro de um vendaval.
juro que quase morro por dentro,
que tudo isto tornou-se num mal.
hoje despeço-me de mim,
que a noite está chegar,
e é nesse calado do anoitecer,
que eu posso partir a chorar.
e que estrela me guiará se já não estás aqui?
e que caminho tomarei se já não me podes aconselhar?
mas olha, se me pedires para voltar eu volto,
ou se ficares comigo eu aguento por ti assim,
mas hoje despeço-me de mim.

domingo, 21 de setembro de 2014

Já ninguém quer ser poeta

já ninguém quer ser poeta,
já ninguém quer declamar o amor,
julga-se que "amo-te" é um poema de um bom poeta,
no entanto é palavra de simples escritor.

cada um pode ser poeta e nem precisa ter o dom,
basta fazer sorrir alguém,
basta que "o poema" seja bom.

ontem pensei escrever-te um poema,
mas começava com "Olá, amo-te, quero um beijo teu"
então decidi ser poeta e rescrevi o poema,
continuou a ser fatela, mas era algo meu:

"ontem o sol beijou a lua, 
e eu o invejei,
queria eu ser beijada, queria eu ser tua,
onde andavas? não te encontrei"

e com isto, fui mais que escritor,
e com isto consegui palavra discreta.
cada um consegue escrever, tal como eu fiz,
mas já ninguém quer ser poeta.

domingo, 14 de setembro de 2014

Quantas pessoas são capazes?

quantas pessoas são capazes de morrer de amor?
eu, certamente, morri de amor quando te conheci,
minto, ressuscitei da morte quando te vi!
vá-se lá entender quem morre de amor,
se é que alguém é capaz de fazê-lo.
morrer de amor! pff, idiota!
por falar em idiota, hoje o tempo o foi,
pedi-lhe que andasse devagar,
e ele como se comandasse a vida (e comanda mesmo),
correu depressa, podia fazer como os soldados e marchar,
mas não, contrariou-me, ninguém é capaz de me contrariar,
minto, anteontem a minha mãe contrariou-me e tive que aceitar.
por falar em aceitar, ou não aceitar, não aceito a distância,
não a suporto, não posso com ela, é desagradável,
deixa-me triste, insegura, em ânsia,
por favor, faz qualquer coisa, manda-a embora!
que idiota que sou, nem tu nem eu a pode mandar embora,
ela nem anda, quem anda somos nós,
mas então por favor, manda-te para aqui agora!
ai que já dói não te ter por perto,
quem aguenta uma vida à espera de encontrar o amor perfeito,
então aguenta 89 dias, decerto! 
quantas pessoas são capazes de morrer esperando?
eu o que mais fiz na vida foi esperar,
e posso esperar a minha vida toda por ti, sei que sempre me vais amar!
morrer por esperar! pff, idiota!
vá-se lá entender quem morre de espera.

domingo, 7 de setembro de 2014

Silêncio

"Pessoas que se amam têm sempre assunto para falar"
foi este o primeiro facto que tinha mesmo que discordar.
sim, quando estou perto dele falo que nem doida, pelos cotovelos,
para me calar, os Deuses quase fazem apelos.
no entanto havia momentos que o silêncio tomava conta de nós
ficávamos à mercê dos nossos pensamentos, lado a lado, a sós.
não tinha nada de constrangedor, era, no fundo, um silêncio agradável.
tomava-lhe o desejo de cada palavra, não pronunciada, amável.
e foi naquele silêncio, nada perturbador, de ardente chama,
que eu percebi que é preciso muita intimidade para ficar em silêncio ao lado da pessoa que se ama.



quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A chuva

comecei por ouvir o som da chuva,
quão bela melodia de céu cinzento,
terminei por ouvir relâmpago violento
que nasce por entre esse céu e decide ser manda-chuva.

gota a gota que caí,
pus-me a pensar de onde nascia.
se era azul ou transparente,
(Fotografia por Henrique Silva)
ou apenas chuva que desabava por entre a gente.

inútil, praga, incolor?
não, certamente louvor!
se nos impede de morrer à sede
então mede tanto quanto alma coerente.

se faz as flores florir,
se faz a agricultura melhorar,
então faz gente sorrir,
então faz gente cantar.

se o som da chuva tem tanto de perfeito,
se o som da chuva tem tanto de melódico, 
que façam a chuva cair desse jeito,
que façam a chuva de tempo periódico.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Poema em citações de quem amou

"Amo-te por todas as razões e mais uma"
     foi assim que comecei a enumerar todas as tuas qualidades,
     e descobri que eram infinitas.
     descobri que eras a necessidade de todas as minhas necessidades,
     necessidades essas que nunca foram restritas.

"Só um mundo de amor pode durar a vida inteira"
     descobri isso mal te conheci,
     e nem foi preciso uma hora 
     sempre fizeste parte de mim, sinto-o.
     e dono de mim, para a vida inteira, és tu agora.

"E respiro em ti para me sufocar"
     quanto aromático é o teu cheiro,
     que dorme por baixo da tua pele.
     que sempre foi meu por inteiro,
     quase odor de mel.

"Eu te amo porque te amo"
      assim descobri quando te amei,
      sem razão, sem poder explicar.
      quando cheguei a ti voei,
      por entre ti, e a tua maneira de expressar.
      descobri que era amor quando te amei,
      descobri que eras dono do mar.
      quando cheguei até ti,
      descobri que eras o reflexo do mundo             ideal,
      e criador do meu mundo, por final.

"Aninha-me a sorrir junto ao teu peito"
      ama-me do teu jeito,
      faz de mim o som do luar,
      posa-me sobre o teu leito,
      traz-me da alma a canção de amar. 

"Saudade - O que será... não sei... procurei sabê-lo"
      encontrei em ti, preferia não ter descoberto
      preferia, meu amor, ter-te sempre por perto.
      que saudade é esta que me torna quase que lágrima,
      que faz de mim, literalmente, uma lástima?

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Pequeno excerto #1

"Amo-te de verdade mas tenho um segredo que não posso contar-te, por nenhum motivo em especial, apenas porque já não é segredo nenhum e já é tarde demais para to contar, tenho um deserto inultrapassável do teu lado da cama, quantos silêncios pode a saudade suportar?, preservar um amor não é afinal livrá-lo do mal, é antes perceber-lhe o mal e aceitá-lo por bem, amén."
______________________________________

in "Prometo Falhar", a mais recente obra de Pedro Chagas Freitas.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

A última vez que te vi

passou-se o tempo, passou-se cada estação,
mas nunca passou o amor dentro mim.
passou-se a hora, passou-se o segundo a cada pulsação,
mas nunca passou o encanto de nós juntos até ao fim.
e assim chegou a hora, que tal seria voltar a ver-te?
passou a madrugada e chegou a manhã,
foi, por sinal, hoje e não ontem ou amanhã.
eras tu, o menino de cabelos ao vento,
que fazia de mim tudo o que era de bom naquele momento.
eras tu, o menino de sorriso encantado,
que fazia de mim algo tão imaculado.
eras tu e não outro alguém.
era por isso que eu te amava como ninguém.
naquele dia tudo passou rapidamente, até mesmo o tempo.
desejava ter-te para sempre antes, depois e naquele momento.
desejei ter-te, sim, possuir uma parte do ti.
despedi-me e foi assim a última vez que te vi.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Sempre esteve destinado

eram amantes desconhecidos de um beijo por dar,
nem os lábios se conheciam e a mente já imaginava o sabor,
a sensação, o toque irresistível, o calor da mão por presentear.
de longe avistavam-se, mas de perto queriam-se.
eram puxados pelo olhar um do outro como se estivessem sós,
mas não estavam, havia bastantes pessoas em redor.
era necessário uma força maior para separar aquela ligação desconhecida.
mas quem se atrevia a fazê-lo? ninguém!
em seu lugar, cada pessoa ficava permanecida.
talvez fora por isso que essa ligação manteve-se até então,
talvez fora por isso que esse amor nunca se pôs em questão.
antes, não passavam de desconhecidos,
mas depois ficaram dependentes um do outro.
nunca imaginaram ser tão unidos,
mas depois viviam um no outro.
seria obra de quem, juntar aquele amor incontrolado?
eles nunca imaginaram, mas sempre esteve destinado.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Se há algo superior ao amor ...

ele disse que me amava como se ama o tempo,
duradouro, raro, constante!
ele disse que me amava mais que tudo naquele momento.
como é que ele pode amar-me mais que tudo,
se tudo engloba até o que ele próprio desconhece?
e se aparecer algo melhor, algo divino, algo que ele carece?
provavelmente, deixarei de ser um alívio e passarei a ser um fardo para ele.
mas não, eu não estou preparada para deixá-lo ir,
e em nenhum dia estarei, e em nenhum dia irei conseguir.
habituei-me a ele como o mar habituou-se à terra!
habituei-me a ser dele, habituei-me a viver nele.
se nada pode separar o mar da terra, nem mesmo uma guerra,
então nada pode separar-me de ti, é isso, somos ligados por forças maiores.
ou talvez por uma única força maior, o amor,
no qual se desconhece a definição,

mas se não for ele o superior, então não somos quase nada,
somos água derramada, chuva saciada, dor acumulada.
se o amor não for a força maior, então existe outra coisa que nos une,
à qual não sei a definição, mas sei que mora dentro de mim, no meu coração.
se há algo superior ao amor, é isso que sinto por ti então.